Como melhorar a comunicação em meio ao conflito: dicas de uma terapeuta familiar
Você está reclamando com seu amigo novamente. Você e seu filho adolescente, seu esposo (a) e sua mãe tiveram outra discussão. Você nem tem certeza de como esses argumentos começaram; só sabe que, de repente, são as velhas e afiadas palavras, o tom de raiva e os sentimentos feridos de todos os envolvidos. Você nunca se sente ouvido, e sabe que a outra pessoa também não, mas ela está escutando? Você está cansado disso, mas não tem certeza do que fazer a respeito.
Seu amigo se solidariza com seu problema, mas nenhum de vocês consegue pensar no que fazer. Esta situação soa familiar? Você está em um relacionamento com a família, amigos, um parceiro ou colegas de trabalho em que simplesmente não consegue chegar a um acordo? Discussões repetitivas, silêncios tensos e falta de solução podem conspirar para puxar você e seus entes queridos para um ciclo vicioso de conflito e tensão.
A resolução de conflitos nos relacionamentos depende inteiramente da comunicação eficaz, saudável e respeitosa de todos os envolvidos. É importante se perguntar: você (e as pessoas próximas a você) sabem formas de comunicação saudáveis o suficiente para navegar por situações adversas?
Por que a comunicação é interrompida durante o conflito?
O conflito familiar parece pessoal
Durante um conflito, especialmente com alguém que você conhece bem, a experiência pode parecer muito pessoal. Ficamos na defensiva quando sentimos que estamos sendo atacados pessoalmente. Quando estamos na defensiva, é mais difícil ouvir reclamações razoáveis. Essa defensiva pode se tornar um hábito e se espalhar para ambos os lados do conflito, criando enormes obstáculos para a resolução de atritos nos relacionamentos. O conflito em um relacionamento também costuma ter efeito cumulativo. Discussões acaloradas geralmente são construídas em cima de dezenas de pequenas divergências e brigas que não foram resolvidas na primeira vez, então cada conflito tem uma base de sentimentos feridos no passado que podem parecer muito pessoais.
O estresse pode impedi-lo de resolver com calma os desentendimentos familiares
O conflito também aumenta, e a capacidade de comunicação muitas vezes diminui durante os momentos de estresse. Quando as pressões externas crescem, podemos ter menos estrutura emocional para tentar entender de onde a outra pessoa está vindo. Interpretações errôneas e mal-entendidos podem aumentar o impacto emocional de um conflito em ambos os lados, novamente fazendo com que algo pareça pessoal, mesmo quando o problema subjacente pareça ser simples de consertar.
A sobrecarga emocional alimenta o conflito
Fica mais complicado responder algo com calma e respeito quando uma ou ambas as pessoas na discussão estão emocionalmente sobrecarregadas. Seja por pressões internas, como problemas ligados à saúde mental, ou pressões externas, como estresse da vida, a sobrecarga emocional alimenta desentendimentos ao impedir uma comunicação calma.
Respostas dadas de forma acalorada geralmente encorajam os outros a responder com a mesma intensidade, intensificando o argumento, mesmo quando os envolvidos não têm a intenção de que ele se torne significativo. Neste contexto, o ouvir vai por água abaixo, os dois podem responder de forma reativa, podem tentar fugir da discussão ou apenas ficar parados, o que estressa o sistema nervoso e o leva a reagir e esperar pelo pior.
Dicas de comunicação de uma terapeuta familiar
Muitas pessoas pensam que a comunicação é apenas falar, mas ouvir ativamente, fazer escolhas ponderadas de palavras e criar espaço intencionalmente (para que você possa se recompor) são ferramentas de comunicação cruciais. Todas elas têm seu lugar na resolução de conflitos familiares, e aprender essas habilidades pode preparar você e seus entes queridos para um relacionamento mais feliz e saudável a longo prazo.
Aqui estão algumas dicas práticas que você pode usar hoje. Compartilhe essas dicas com sua família e pessoas próximas para que todos possam começar a praticar maneiras mais saudáveis de se envolver, especialmente em tempos de conflito.
Dica #1: Pratique a regulação emocional
Quando você e um ente querido sentirem que um conflito está se formando, separem um momento e regulem suas emoções, depois reconectem-se para continuar discutindo o conflito. Emoções não abordadas empurram você para o território de luta/ fuga/congelamento e levarão a uma rápida falha de comunicação. Reservar um tempo, separadamente, para regular suas emoções, ajuda vocês dois a ficarem fora do território da "reação", para que possam se reconectar e realmente ouvir.
Quer saber como regular suas emoções? Aqui estão algumas sugestões:
Faça alguns exercícios de respiração profunda ou lenta
Escreva seus sentimentos em um papel
Faça uma curta caminhada
Conte lentamente de trás para frente a partir de 100
Pegue um copo de água gelada e beba devagar
Sente-se e imagine-se em um lugar calmo e agradável
Dica #2: Ouça para entender
Dê a cada pessoa no conflito tempo para falar o que pensa. Quando outra pessoa estiver falando, ouça, mantenha sua atenção nela e tente não pensar imediatamente nas respostas. Não interrompa ou explique; tente entender de onde esses argumentos estão vindo sem adicionar sua perspectiva ainda. Se precisar de mais contexto, pergunte a eles: "Você pode me falar mais sobre o que acabou de dizer?" Quando eles terminarem de falar, tente resumir o que você ouviu (na verdade, tente não adicionar suas próprias opiniões) e pergunte se eles acham que você entendeu a perspectiva deles.
Pode ser estressante ouvir quando você não tem certeza de que será ouvido, então certifique-se de compartilhar esse processo de escuta ativa com a outra pessoa para saber que também será capaz de falar o que pensa livremente e ser ouvido completamente antes que alguém adicione sua opinião à sua perspectiva.
É importante lembrar que você não precisa aturar gritos ou insultos. Veja a dica #5 se o seu conflito estiver evoluindo para níveis prejudiciais.
Dica #3: Use o"eu" em suas declarações em vez de culpar o outro
Quando você se concentra em suas próprias experiências e emoções usando declarações "eu" em conflito, ambos se apegam a coisas que sabem que são verdadeiras e evitam culpar a outra pessoa. Quando as pessoas não sentem que estão sendo acusadas, elas têm mais facilidade em ouvir. Também fica mais difícil invalidar seus sentimentos. Suas experiências são suas e seus sentimentos são importantes.
Aqui estão algumas substituições rápidas do uso do "eu" para usar em discussões:
Em vez de "Você não ouve", diga: "Não me sinto ouvido quando..."
Em vez de "Você sempre", diga: "Eu notei ..."
Em vez de "Você fez isso para me machucar", diga: "Eu me sinto magoado quando você..."
Em vez de dizer: "Eu odeio quando você ..." dizer: "Eu sinto ____ quando você ..."
Em vez de dizer: "É desrespeitoso da sua parte chegar atrasado", diga: "Sinto-me desrespeitado quando você se atrasa".
Dica #4: Mantenha o foco no problema em questão
Mudar de assunto para mágoas passadas ou preocupações futuras é tentador em conflitos, mas é importante resolver um problema de cada vez. Trazer listas de outros problemas é desgastante e pode parecer um ataque.
É importante, também, manter o foco no problema imediato para evitar declarações como "você sempre" ou "eu nunca". Essas declarações podem parecer muito pessoais e muitas vezes não são precisas, então você corre o risco de mal-entendidos ou de se sentir incompreendido.
Quando descobrir que sua discussão se desviou do problema original, faça uma pausa e reconheça que está saindo do tópico. Redirecione a conversa e mantenha o foco em encontrar soluções.
Dica #5: Faça pausas quando o conflito ficar intenso para que você possa respirar e refletir
Você já ouviu a frase "não vá para a cama com raiva?" O objetivo é encorajá-lo a resolver os atritos antes de dormir, mas prefiro olhar de outra maneira. Acho importante decidir conflitos quando puder, mas quando os conflitos se tornam tão intensos que não podem mais ser produtivos, é fundamental parar, fazer uma pausa e retomar o controle.
Como terapeuta familiar, acredito que também é importante não ir para a cama chateado com conflitos intensos. Você pode usar as sugestões da Dica #1 para regular suas emoções e reiniciar sua conversa quando ambos estiverem mais calmos. Isso não precisa acontecer no mesmo dia, embora seja importante definir um horário para continuar a conversa, e é melhor que seja quando os dois se sentirem capazes de se comunicar com gentileza e compreensão.
Dica #6: Trabalhe com um terapeuta familiar ou individual
Quando os conflitos parecem sem solução, é um sinal de respeito a si mesmo e à sua família se esforçar para encontrar alguém que possa lhe oferecer ajuda honesta e prática. Os terapeutas familiares podem reunir você e seus entes queridos para aprender habilidades de comunicação e gatilhos mais profundos em um espaço seguro e produtivo. Um terapeuta familiar garantirá que todos tenham a chance de dizer o que precisam e também ajudará todos vocês a aprender a ouvir, obter novos pontos de vista e se expressar com respeito e clareza.
Seu terapeuta familiar pode atuar como um árbitro, ajudando você a perceber quando a comunicação falha em um conflito. Em vez de ser sugado por padrões de comunicação antigos e inúteis, seu terapeuta familiar ajudará todos vocês a praticar habilidades de comunicação novas e mais saudáveis em tempo real durante as sessões.
Às vezes, você não consegue levar outras pessoas para fazer terapia com você. Isso não significa que você não possa se beneficiar da terapia. Com um terapeuta, você pode discutir os conflitos com os quais está tendo dificuldade nos relacionamentos. Seu terapeuta pode orientá-lo no desenvolvimento de uma melhor autocompreensão e você pode aprender e praticar habilidades de comunicação mais saudáveis, que incluem estabelecer limites, ouvir ativamente e se afirmar.
Resolução de conflitos nos relacionamentos: construir pontes, não muros
Não é vergonhoso ter conflito com as pessoas em sua vida. É totalmente normal e vai acontecer em qualquer relacionamento. Mas suponha que você esteja cansado de conflitos desconfortáveis e improdutivos. Nesse caso, saber que você tem opções para entender, abordar e reparar o problema é essencial.
Estou aqui para ajudá-lo se precisar de apoio extra à medida que desenvolve habilidades de comunicação para navegar melhor nos conflitos familiares. Já ajudei inúmeras pessoas a reconstruir relacionamentos com seus entes queridos, orientando-os sobre maneiras de usar uma comunicação direta e saudável para ouvir e ser ouvido. Você e as pessoas que você ama podem aprender a trabalhar juntos, mesmo em situações adversas, para que a resolução de desentendimentos familiares seja produtiva e que vocês continuem a crescer e satisfazer todos os envolvidos.
